terça-feira, dezembro 19, 2006

remédio

"Enquanto isso - disse Abrenuncio - toquem música, encham a casa de flores, façam cantar os passarinhos, levem-na para ver o pôr-do-sol no mar, dêem-lhe tudo o que possa fazê-la feliz - despediu-se rodando o chapéu no ar com a frase latina de rigor. Mas dessa vez traduziu-a em homenagem ao marquês - "Não há remédio que cure o que a felicidade não cura."
Do Amor e outros demônios. Gabriel Garcia Márquez



Afirmo categoricamente e sem medo: o melhor livro dele.
tá no meu top 5

2 comentários:

Luiz disse...

Posso citar outras passagens inesqueciveis de Gabo: "Deitei-me ao seu lado e a reconheci palmo a palmo. Era a mesma que andava pela minha casa: as mesmas mãos que me reconheciam às apalpadelas na escuridão, os mesmo pés de passos tênues que se confundiam com os do gato, o mesmo cheiro de suor de meus lençóis, o dedo do dedal. Incrivel: vendo-a e tocando-a em carne e osso, me parecia menos real que em minhas lembranças" Memorias de mis putas tristes

Luiz disse...

Então ele estendeu os dedos gelados na escuridão, buscou tateante a outra mão na escuridão, e a encontrou à espera. Ambos foram bastante lúcidos para perceber, num mesmo instante fugaz, que nenhuma das duas era a mão que tinham imaginado antes de se tocar, e sim duas mãos de ossos velhos. Mas no instante seguinte já eram. Ela começou a falar do marido morto, no tempo presente, como se estivesse vivo, e Florentino Ariza soube neste momento que também para ela soara a hora de se perguntar com dignidade, com grandeza, com desejos incontidos de viver, o que devia fazer com o amor sem dono que lhe havia ficado"
El Amor em los Tiempos del Colera